sexta-feira, dezembro 29, 2006

Reencontro...2

Ma Mère



Pierre, um adolescente de 17 anos, tem um amor cego pela mãe, mas
ela não está disposta a assumir o que o filho projecta dela. Recusando
ser amada por aquilo que não é, ela decide quebrar o mistério e revelar
a sua verdadeira natureza - a de uma mulher para quem a imoralidade se
tornou um vício. Pierre pede para ser iniciado por ela no deboche e deixa-se
levar até ao limite em jogos cada vez mais perigosos...

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Palavras e Palavras


"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM, Alexandre O'Neill (1924-1986)Poesias Completa

domingo, dezembro 24, 2006

Reencontro

21 Gramas





Eles dizem que todos nós perdemos 21 gramas
no exacto momento em que morremos...
todos nós.
O peso de um punhado de moedas.
O peso de um chocolate.
O peso de um pequeno pássaro.
...

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Deambulações

" Esforce-se por amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira. Não procure, por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque não saberia pô-las em prática, vivê-las. E trata-se, precisamente, de viver tudo. De momento, viva apenas as suas interrogações.
Talvez que, simplasmente vivendo-as, acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas."
Rilke, Rainer Maria, Cartas a um jovem poeta, Contexto Editora, 2000, Carta IV, pág.36 e 37.
Fotografia: Valpaços 2006.

domingo, dezembro 03, 2006

IVG


...aborto a favor ou contra?

Não se deve colocar a questão dessa forma, pois as Mulheres que decidem fazê-lo ponderam muito bem se o devem ou não fazer, e se tal acontece é porque economicamente, emocionalmente, etc, não podem “suportar” outro filho. É necessário conhecer a realidade de cada um e acima de tudo não descriminar nenhuma Mulher independentemente da sua decisão, porque a liberdade de escolha é um direito.

quarta-feira, novembro 29, 2006

segunda-feira, novembro 27, 2006

CESARINY 1923-2006



Sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
O meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado
à morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que
existe nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
(antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa)
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
eu o pico do Everest
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente - tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris - já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião - não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais - também, já por cá
passaram.
E sou, no sentido mais enérgico da palavra
na carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnífica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser
escrupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-los semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou
em franca ascensão para ti O Magnífico
na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais nem
lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu partido de manhã encontrado perdido entre
lagos de incêndio e o teu retrato grande!

autografia, Mário Cesariny, Pena Capital II, pena capital, 2ª edição, Assírio & Alvim



sexta-feira, novembro 17, 2006

Diálogos de Vanguarda


Esta patente até Janeiro no edifício sede da Gulbenkian a exposição Diálogos de Vanguarda, que abrange todo o período de actividade artística de Amadeu, e de alguns dos seus amigos.




"A técnica de que fala é coisa em que nem penso. Fixar aí a ideia é parar muito aquem do fim. Qualquer aprende. Ninguém deixa de fazer uma obra de arte intensa por falta de técnica, mas por falta de outra coisa que se chama temperamento."
Carta de Amadeu Souza-Cardoso ao seu tio Francisco




Pintura c.1914, óleo sobre tela

segunda-feira, novembro 13, 2006

Percurso metafísico



"
(...)

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

(...)

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

(..) "
Tabacaria - Álvaro de Campos, 15-1-1928

segunda-feira, novembro 06, 2006

Cadáver esquisito



Foi inaugurada na quinta-feira a exposição "Cesariny/Cruzeiro Seixas/ Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito" na galeria PERVE.

Esta exposição marca o reencontro, após 55 anos de afastamento, dos três artistas surrealistas, expondo as obras realizadas entre 1941 e 2006.
Para além de reunir trabalhos antigos, a ideia principal foi a de conseguir uma colaboração entre eles, surgindo deste modo o cadavre-exquis (cadáver-esquisito) - técnica "simbólica" do surrealismo francês, que consiste na participação de diversas pessoas para completarem um texto ou um desenho, conhecendo apenas algumas linhas deixadas à vista por uma folha dobrada chagando assim a uma obra colectiva.

As folhas foram passando de casa em casa, sem que os artistas se cruzassem, transformando-o não numa obra una, em que por vezes os artistas se tentam diluir para que as suas linguagens possam convergir, mas persistindo a individualidade do traço e imaginário de cada um.

Para ver até 20 de Dezembro de 2006

Galeria Perve
Rua das Escolas Gerais nº17, 19 e 231100 - 218 Lisboa - Alfama Portugal

CONVERSA LUSÓFONA

Aqui fica a sugestão para mais um debate no Largo da Graça
“Que quis dizer Fernando Pessoa quando escreveu, “a minha pátria é a língua portuguesa”?”

terça-feira, outubro 31, 2006

Aparição num dia de inverno



"Um dia, lendo este poema, lembrar-te-ás:
o amor falou através dele. Ouvirás no seu ritmo
a voz que tantas vezes desejaste; reconhecerás
nos seus versos o corpo que encheu
a tua vida; tocarás em cada uma das suas palavras
os dedos que te ensinaram a medir os dias
pelas suas contas de ternura. E o tempo
entrará por ti como esse rio que alagou os campos
do inverno. Olharás à tua volta, vendo a desolação
de uma paisagem inundada. Algures, porém,
uma árvore antiga sobressai; e os seus ramos
verdes dar-te-ão a esperança de uma nova
primavera, em que voltes a ouvir a voz
que o poema te trouxe com os seus dedos
de música."


Nuno Júdice, A a Z

domingo, outubro 29, 2006

Mãos Vazias


"Quero um poema puro, um poema duro,
Um poema grito.
Quero um poema estrondo, um poema urro,
Um poema bramido.
Quero um poema guerreiro, um poema aguerrido,
Um poema combate.
Quero um poema bomba , que tudo destrua,
Que tudo arrase…
….
E quero caminhar sobre as cinzas,
E descobrir os meus pedaços,
E reconstruir o presente,
E soltar o meu grito de combate:
Eis-me!
Dura, inteira, guerreira!
Eis-me!
Caneta-arma,
Caneta-amor!
Soltando o meu poema duro,
Cantando e chorando a dor.
Gritando o meu poema urro,
Entoando cantos de amor.
E dando-me em cada verso.
E entregando-me em cada poesia.
E ficar só…
Tão só no fim do poema,
Estendendo as mãos vazias."


Erotismo na Cidade, Encandesceste

quinta-feira, outubro 26, 2006

Transe



... de Teresa Villaverde, retracta a vida de Sonia, uma jovem russa que cai nas teias do tráfico de mulheres e consequentemente na prostituição.

Tema que poderia levar ao sentimentalismo gratuito, o que não se passa, leva-nos sim, apesar da temàtica, a uma poética das trevas em que o espectador vai construindo a história através das peças subtis que o silêncio nos dá, tornando-se, como diz Heiddegger, o modo autêntico da palavra.

quinta-feira, outubro 19, 2006

terça-feira, outubro 17, 2006

Noções


"Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera..."

Cecília Meireles - enviado pela minha querida Amiga Giza.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Esplendor na relva


"What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in flower;
We will grieve not, rather find Strength in what remains behind.“*


Tradução livre:

Aquele brilho outrora tão resplandecente
Dos meus olhos se ausentou para sempre
E agora, apesar de perdido o esplendor na relva
E o tempo de glória em flor,
Em vez de chorarmos, buscaremos força
No que para trás deixamos.

* Parte do poema " Intimations of Immortality" de Willian Wordsworth, retirado do filme "Esplendor na relva" de 1961, escrito por Willian Inge com a interpretação de Natalie Wood, Pat Hingle e Warren Beatty.

segunda-feira, outubro 02, 2006

sábado, setembro 23, 2006

Cogitação


Retiro-me por uns tempos para tentar perceber o MUNDO
na companhia do lirismo da Katie Melua, deixando-me
levar no imaginário de Lewis Carroll e lentamente caindo
no pessimismo de Schopenhauer, indo aos poucos ao
encontro do meu SER.


quinta-feira, setembro 21, 2006

segunda-feira, setembro 18, 2006

A sombra sou eu


"A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!"


José de Almada Negreiros

segunda-feira, setembro 11, 2006

domingo, setembro 10, 2006

A eles



"Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
(...)

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundissimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insignia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
díscipulos ou amigos
do seu gato."

Plabo Neruda, "Ode ao Gato".

terça-feira, setembro 05, 2006

Caminho para a abstração


Macieira - Piet Mondrian

Sou de vidro


" Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita.".

Lídia Jorge

sexta-feira, setembro 01, 2006

Rembrandt





“Um quadro não é feito para ser aspirado ; recuai:
o odor da pintura não é são”
(Rembrandt).





Filósofo em Meditação (1632), Rembrandt.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Fado do retorno


"Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E páras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro

Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta

Então que os cílios olhem
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cereja."


Lídia Jorge

Eu, tu e todos os que conhecemos.



Recomenda-se!!!
Sinopse


terça-feira, agosto 29, 2006

Prédica


" Acontece a muitas obras ( e é também o objectivo estrito de certas artes) não conseguirem irradiar outra coisa senão efeitos de intenção primária. Se se demora neles, descobre-se que apenas existem à custa de qualquer inconsequência, de qualquer impossibilidade ou de qualquer prestígio, que um olhar prolongado, ou questões indiscretas, ou uma curiosidade talvez um pouco demasiado desenvolvida poriam em perigo. (...) O público confunde demasiadas vezes a arte da restrita decoração, cujas condições se estabelecem em relação a um lugar bem definido e limitado, e necessitam de uma perspectiva única e de uma certa iluminação, com a arte completa na qual a estrutura, as relações, tornadas sensíveis, da matéria, das formas e das forças são dominates, reconhecíveis a partir de todos os pontos do espaço, e introduzem, de algum modo, na visão, não sei que presença do sentimento da massa, da potência estática, do esforço e dos antagonismos musculares que nos identificam com o edifício, através de uma certa consciência do nosso corpo completo."

Valéry,Paul, Discurso sobre a estética - Poesia e Pensamento abstracto, edições Vega,colecção Passagens 1ªedição, pág.35.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Kali decapitada


" (...) idade em que Tudo se funde em Nada, como se esse puro nada que acabava de conceber estremecesse dentro dela à maneira de uma criação fuura.
O Mestre da grande compaixão ergueu a mão para abençoar a caminhante .
- A minha cabeça tão pura foi soldada à infâmia - disse ela. - Quero e não quero, sofro e contudo exulto, tenho horror à vida e terror à morte.
- Todos nós somos incompletos - disse o Sábio. - Todos somos divisão, fragmentos, sombras, fantasmas sem consistência. Todos julgámos chorar e exultar desde há séculos e séculos."

Yourcenar, Marguerite, Contos Orientais - Kali decapitada, Publicações Dom Quixote, 5ª edição Maio de 2002, pág135.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Soneto do amor total


"Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."

Vinicius de Moraes

quarta-feira, agosto 09, 2006

Júbilo



Bleu - Krzysztof Kieslowski

Musica de Zbigniew Preisner

terça-feira, agosto 08, 2006

A paixão


"Felizmente, não teve mau resultado.(..). Paixão foi elemento que nele não entou.
- Como é que sabe?
- A paixão não mede as consequências. Pascal disse que o coração tem razões que a razão desconhece. Se é que interpretei bem, queria dizer que, quando a paixão se apodera de um coração, esta inventa, para provar que pelo amor todo o sacrifício é pouco, razões não somente palusíveis, mas elucidativas. Ficamos convencidos de que vale a pena aceitar a desonra, e que a vergonha não é preço exagerado para se pagar por ele."

Maugham, W.Somerset, O fio da navalha, Edição « Livros do Brasil» Lisboa, Janeiro de 2000, pág.150.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Hypomnemata


"O papel da escrita é constituir, com tudo o que a leitura constitui, "um corpo" (quicquid lectione collectum est, stilus redigat in copus). E, este corpo, há que entendê-lo não como um corpo de doutrina, mas sim (...) como o próprio corpo daquele que, ao transcrever as suas leituras, se apossou delas e fêz sua respectiva verdade : a escrita transforma a coisa vista ou ouvida " em forças e em sangue" ( in vires, in sanguinem.). Ela transforma-se, no próprio escritor, num principio de acção racional."

Foucault, Michel, Oque é um autor?, Editora Vega, colecção Passagens, 4ª Edição, pág.143.

terça-feira, julho 18, 2006

Eterna saudade


O filme: Eternidade e um dia de ----- Theo Angelopoulos

Alexander, um escritor, tem o seu último dia de liberdade, antes de dar entrada no hospital. Ao sair de casa, salva da polícia um miúdo imigrante albanês.
A leitura de uma velha carta da sua esposa transporta-o para momentos de felicidade num dia ensolarado de verão de 1966. As suas reminiscências centram-se, também, no poeta grego Solamos, que viveu exilado na Itália e voltou para a Grécia, no começo do século XIX.
Um mergulho íntimo pela memória de um escritor que, ao sentir aproximar-se a morte, faz uma espécie de balanço da sua vida.

Ao lidar com a memória, Angelopoulos desconstrói a unidade do tempo do passado e presente, real e imaginário. Em certas momentos o tempo fundem-se na mesma sequência, celebrando a importância da palavra, da criação artística, da dor do exílio e da solidão do silêncio.


LA LUMIÈRE DU MONDE



" Tradução (VIII) :

Quando eu era criança já achava que as coisas não batiam certo com o que me contavam delas. Mantinha-me todo o tempo ao lado do mundo, no lado mudo da vida que recusava obstinadamente entrar no mundo das convenções. Preferi ir eu ao encontro das coisas perguntar-lhes o nome, em vez de usar o nome que os outros lhes davam. Assim, o revestimento cinzento de uma parede irradiado pelas rosas era capaz de me iluminar: eu quase conseguia ouvi-las. Podia acontecer com as rosas, com um rosto varrido por um raio de generosidade, com o sofrimento de uma mãe, ou a doçura trazida a um rosto pelo cansaço. Durante trinta anos recusei-me a entrar fosse no que fosse que me pudesse enlouquecer: os constrangimentos e as actividades de tempos livres tal como o mundo no-los propõe. Era sempre o ruído de fundo que eu ouvia em todo o lado. Esta história podia ter acabado mal: eu podia ter enlouquecido para não enlouquecer. Para além de ter havido, na minha vida, elementos de conto de fadas: tive realmente uma antepassada que morreu com uma picada de espinho de roseira."

Christian Bobin, LA LUMIÈRE DU MONDE, retirado do blog Risocordetejo


quinta-feira, julho 13, 2006

Níveis


" As realidades psicológicas e as das artes vivem em níveis distintos de significação: Freud nos oferece uma chave para entender o Édipo, mas a tragédia grega não se reduz às explicações da Psicanálise. Levi-Strauss diz que a interpretação de Freud é apenas outra versão do mito Édipo: Freud nos conta, em termos correspondentes a uma época que substitui a analogia mítica do pensamento lógico, o mesmo que Sófocles nos contou."

Paz, Octávio, Marcel Duchamp - ou o castelo da pureza, Editora Perspectiva, 3ª edição, 2004,pág.37.

terça-feira, julho 11, 2006

Ciclo de cinema no King



UM ANO DE CINEMA(S) - OS MELHORES DO ANO NO KING
Os melhores filmes do ano, estreados de Junho de 2005 a Junho de 2006, vão ser mostrados no ciclo UM ANO DE CINEMA(S) no Cinema King, em Lisboa, de 29 de Junho a 23 de Agosto. “Mar Adentro”, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Last Days”, “Capote” e “Uma História de Violência” são alguns dos filmes a ser exibidos num ciclo a não perder.

De 29 de Junho a 23 de Agosto no Cinema King a 3,50€

A RAPARIGA SANTA, Lucrecia MartelQuinta, 29 Junho

MARIA CHEIA DE GRAÇA, Joshua MarstonSexta, 30 Junho

ODETE, João Pedro RodriguesSábado, 1 Julho

CLOSER - PERTO DEMAIS, Mike NicholsDomingo, 2 Julho

VERA DRAKE, Mike LeighSegunda, 3 Julho

TARNATION, Jonathan CaouetteTerça, 4 Julho

MILLION DOLLAR BABY-SONHOS VENCIDOS, Clint EastwoodQuarta, 5 Julho

SIDEWAYS, Alexander PayneQuinta, 6 Julho

O CÉU GIRA, Mercedes AlvarezSexta, 7 Julho

3 EXTREMOS, Park Chan-Wood, Takashi Miike e Fruit ChanSábado, 8 Julho

A QUEDA - HITLER E O FIM DO TERCEIRO REICH*Olivier HirschbiegelDomingo, 9 Julho

QUERIDA FAMÍLIA, Dominic Harari e Teresa PelegriSegunda, 10 Julho

TEMPORADA DE PATOS, Fernando EimbckeTerça, 11 Julho

MONDOVINO*, Jonathan NossiterQuarta, 12 Julho

COLISÃO, Paul HaggisQuinta, 13 Julho

SINAIS VERMELHOS, Cédric KahnSexta, 14 Julho

9 SONGS - 9 CANÇÕES, Michael WinterbottomSábado, 15 Julho

CHARLIE E A FÁBRICA DE CHOCOLATE, Tim BurtonDomingo, 16 Julho

DE TANTO BATER O MEU CORAÇÃO PAROU,Jacques AudiardSegunda, 17 Julho

MAR ADENTRO, Alejandro AmenábarTerça, 18 Julho

OS PSICO DETECTIVES, David O . RusselQuarta, 19 Julho

OS EDUKADORES, Hans WeingartnerQuinta, 20 Julho

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, Ang LeeSexta, 21 Julho

OS IRMÃOS GRIMM, Terry GilliamSábado, 22 Julho

ALICE, Marco MartinsDomingo, 23 Julho

O CASTELO ANDANTE, Hayao MiyazakiSegunda, 24 Julho

LAST DAYS - ÚLTIMOS DIAS, Gus Van SantTerça, 25 Julho

AURORA, F. W. MurnauQuarta, 26 Julho

REIS E RAINHA*, Arnaud DesplechinQuinta, 27 Julho

A MARCHA DOS PINGUINS, Luc JacquetSexta, 28 Julho

AS BONECAS RUSSAS, Cédric KlapischSábado, 29 Julho

OLIVER TWIST, Roman PolanskiDomingo, 30 Julho

DOM QUIXOTE DE ORSON WELLES, Orson WellesSegunda, 31 Julho

BROKEN FLOWERS - FLORES PARTIDAS, Jim JarmuschTerça, 1 Agosto

O FATALISTA, João BotelhoQuarta, 2 Agosto

A NOIVA CADÁVER, Tim BurtonQuinta, 3 Agosto

SARABAND, Ingmar BergmanSexta, 4 Agosto

O PESADELO DE DARWIN, Hubert SauperSábado, 5 Agosto

NADA A ESCONDER, Michael HanekeDomingo, 6 Agosto

MATCH POINT, Woody AllenSegunda, 7 Agosto

ESPELHO MÁGICO*, Manoel de OliveiraTerça, 8 Agosto

O LEOPARDO*, Luchino ViscontiQuarta, 9 Agosto

ELA ODEIA-ME*, Spike LeeQuinta, 10 Agosto

TRÊS ENTERROS DE UM HOMEM, Tommy Lee JonesSexta, 11 Agosto

TRANSAMERICA, Duncan TuckerSábado, 12 Agosto

CAPOTE, Bennett MillerDomingo, 13 Agosto

SYRIANA, Stephen GaghanSegunda, 14 Agosto

COISA RUIM, Tiago Guedes e Frederico SerraTerça, 15 Agosto

MEMORIAS DE UMA GUEIXA*, Rob MarshallQuarta, 16 Agosto

O MUNDO*, Jia Zhang KeQuinta, 17 Agosto

UMA HISTORIA DE VIOLÊNCIA, David CronenbergSexta, 18 Agosto

WALK THE LINE, James MangoldSábado, 19 Agosto

NINGUÉM SABE*, Hirokazu KoreedaDomingo, 20 Agosto

INFILTRADO, Spike LeeSegunda, 21 Agosto

LISBOETAS, Sergio TréfautTerça, 22 Agosto

A CRIANÇA, Jean-Pierre e Luc DardenneQuarta, 23 Agosto

Preço Único: 3,50€Sessões às 14h, 16h30, 19h, 21h30Sexta, Sábado e 2ªFeira também às
00hExcepto onde assinalado com * 14h, 17h45, 21h30
Cinema KingAv. Frei Miguel Contreiras, 52ATel 21 848 08 08

segunda-feira, julho 10, 2006

Atributo às pedras

Photobucket - Video and Image Hosting


" As pedras da calçada vagueiam
connosco pelos caminhos longos,
desfiam-nos a ir mais além, como
nós as desafiamos a ir mais além.
Existem porque existimos e
nós evoluímos com elas."

Joana Maria C.

sexta-feira, julho 07, 2006

O ponto de todos os pontos


" (..) disse que para terminar o poema a casa lhe era indespensável , pois num ângulo da cave havia um Aleph. Esclareceu que um Aleph é um dos pontos do espaço que contêm todos os pontos

- Está na cave debaixo da sala de jantar - explicou, com a voz aligeirada pela angustia. - É meu, é meu; descobri-o na infância, antes da idade escolar. A escada da cave é inclinada, os meus tios tinham-me proibido de descer, mas alguém me disse que havia um mundo na cave. Referia-se, soube-o depois, a um baú, mas eu pensei que havia um mundo. Desci secretamente, tropecei na escada proibida, caí. Ao Abrir os olhos, vi o Aleph.

- O Aleph? - perguntei.

- Sim, o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos. (...).

Procurei raciocinar

- Mas não é muito escura a cave?

- A verdade não penetra num entendimento rebelde. Se todos os lugares da Terra estão no Aleph, ali estarão todas as luminárias, todas as lâmpadas, todas as fontes de luz.".

Borges, Jorge Luis, O Aleph (Obras Completas Vol.I), Lisboa, Teorema.




segunda-feira, junho 19, 2006

Transcendência


" Essência e existência, imaginário e real, visível e
invisível, a pintura confunde todas as nossas categorias
desdobrando o seu universo onírico de essências
carnais, de semelhanças eficazes entre significações mudas.".

Merleau-Ponty, O Olho e o Espírito, Edições Vega, 2004, pág. 32.

sábado, junho 10, 2006

Acomodação do artista


" Se o artista não se precipita na sua obra como Curtuis no seu abismo, como soldado para o meio da refrega, sem reflectir, e se, nessa cratera, ele não trabalhar como o mais indefeso refugiado numa derrocada: se se puser a contemplar as dificuldades em vez de as vencer uma a uma, como esses amantes de fadas que para alcançar as suas princesas se põem a combater encantamentos renascentes, a obra ficará inacabada, parecerá no fundo do atelier, onde produzir se torna impossível e o artista assiste ao suicídio do seu talento.".

Balzac, Honoré de, " A obra-prima desconhecida", Edições Vendaval, 2002, pág 22
.

terça-feira, maio 16, 2006

Navegantes


" O bom piloto, mesmo com a vela rasgada e de todo desarmada, repara as feridas da sua nave para prosseguir na sua rota"

Lúcio Aneu Séneca

quinta-feira, abril 27, 2006

Love's Waiting Time


" Tão doce é ficar apenas próximo,
Conhecer melhor o outro e manter
A suave sensação de um par que se toca...

(...)

Contudo, um pouco mais o nosso amor pode crescer!
E quando tiver florescido, acaso morrerá.
Alimentado de beijos sem lábios, deixá-lo adormecer,
Deitado em mortal negação, contudo, ainda um pouco...
Contudo, um pouco mais, um pouco mais."

Jack London no livro " Quando Deus Ri", conto com o mesmo titulo.

quarta-feira, abril 26, 2006

Um Rosto


"Apenas uma coisa inteiramente transparente:
o céu, e por baixo dele a linha obscura do
horizonte
nos teus olhos, que pude ver ainda
através de pálpebras semicerradas,
pestanas húmidasda
geada matinal, uma névoa de palavras
murmuradas
num silêncio de hesitações. Há quanto
tempo,
tudo isto? Abro o armário onde o tempo antigo
se enche de bolor e fungos; limpo os
papéis,cartas que talvez nunca tenha lido até
ao fim, foto-grafias
cuja cor desaparece, substituindo os corpos
por manchas vagas como aparições; e
sinto,eu
próprio, que uma parte da minha vida
se apaga
com esses restos."

Nuno Judice