Monsanto 2006, (c) Maribel Sobreira
"Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra."
Uma voz na pedra de António Ramos Rosa
4 comentários:
Colhi uma rosa nos teus olhos
que não deixaram de olhar
e como ela brilha
no meu peito
para a minha alma
iluminar.
Ramos Rosa é um poeta da delicadeza. Conheço-o muito mal -dele possuo e li apenas um livro- mas do que conheço gosto bastante.
Obrigada pela partilha, Maribel
Luís F. de A. Gomes
Mia, sou uma admiradora incondicional do Ramos Rosa. Conheço muito, se bem que não conheça tudo. Há um poema que foi descoberta relativamente recente e creio que não está aqui na net. veja se conhece, e se não, se gosta.
são versos de O Instante,
in No calcanhar do vento:
"Quem posso eu chamar, que palavras lúcidas / e sóbrias, veementes / poderão despertar as ondas felizes, / que outro apelo, que outro alento / aproximará as árvores, o hálito das suas frases?
Quem me oferecerá no seu corpo o estuário das mãos, / que prodígios da terra deslizarão no repouso, / que declives, que jardins, que palácios diminutos, / que intangíveis enlaces, que adoráveis volumes? / Quem me dará o sossego da fábula mais pura / com o exacto relevo imediata e vagarosa?
Real e perfeita / num deslizar de gozo, em lábios que emudecem deslumbrados, / real e completo, secreto, imediato, maravilhoso / é o instante que descobre o animal ardente, / a mais ardente exactidão / a mais oferecida à claridade, / a mais contínua, a mais profunda suavidade.
Estamos dentro de um seio onde nascemos / como de uma montanha latente, somos nascente confusão / de múrmurios silvestres e a magia natural / de um silêncio límpido,, abraçamos a maravilha / aqui e agora, reconcentração na felicidade, / na evidência de delícias, múltiplas, fatais."
Bom fim de semana
Viva Luis!
Muito bonito o que escreveu!:-)
Também não o conheço muito bem, mas gosto bastente do pouco que conheço.
Não agradeça a partilha, é feita sem obrgações e com o maior agrado!
Resto de bom Domingo
Viva Gi!
Não conhecia e adorei, muito obrigada por o ter partilha, muito obrigada mesmo!!
Irei publicá-lo. ;-)
Resto de bom Domingo
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